Já diz o bom e velho dicionário Aurélio sobre preconceito: "Conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; ideia preconcebida.". Há quem diga que todos têm preconceito e que são hipócritas todos aqueles que dizem o contrário. O fato é que, no Brasil, a célebre frase de Albert Einstein ganha cada vez mais sentido: "É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito". Antes de discutirmos sobre isso, vejamos um trecho de um documentário, chamado Faixa de Areia, para respondermos se "ter opinião" é diferente de "ter preconceito". Ou seja, é opinião ou preconceito?
E aí, o que vocês acham, ela foi preconceituosa ao generalizar que as pessoas com poder aquisitivo menor são mal educadas ou estava apenas defendendo seu ponto de vista ao achar que muitas pessoas não dão a devida atenção aos valores referentes à educação doméstica?
Realmente, é difícil debatermos sobre um tema tão forte como esse, mas devemos estar preparados para enfrentarmos um assunto que requer muita delicadeza e conhecimento de mundo para não sermos fatalmente preconceituosos e ser contundentes em nossos argumentos.
Antes de tudo, precisamos perceber a sutil deferença que separa o preconceito da opinião, é uma línha muito ténue mesmo, não fique atemorizado. Muito em breve, serão disponibilizados aqui os resultados do debate com nossos alunos. Não perca! Enquanto isso, envie comentários com sua opinião, todas elas serão expostas aqui no site e ficarão abertas ao debate. Participe!!
Para dar o pntapé inicial, abaixo está a redação de uma aluna do 2° Ano do Ensino Médio de 2010, sobre o tema preconceito. Confiram que brilhante texto.
Como é duro ser diferente
Numa sociedade absolutamente “avançada”, onde a tecnologia ganha cada vez mais espaço, é de fazer chorar quando percebemos que a tecnologia das relações ainda é bem retrógrada. Em pleno século XXI, ainda há espaço para a ignorância e seus preconceitos.
A rejeição às diferenças fundamenta-se na burrice. É burrice que um país tão miscigenado quanto o Brasil, exista racismo, quando sabemos que somos todos brancos, negros e índios. É burrice colocar o pobre à margem da sociedade, quando sabemos que são eles que carregam o país nas costas. E outros tantos milhões de exemplos constam: preconceito é a “animalização” do homem.
O mais agressivo dessa triste realidade é saber o quanto a praga preconceituosa está plantada nas pessoas. O pior é saber o tanto de verdade que há numa piadinha preconceituosa. Como diria Tom Zé, “são provérbios maldosos naquele tom brincalhão”.
O fato é que somos todos brancos, pretos, homossexuais, pobres, ricos, enfim, somos humanos, feitos de carne, osso e coração. Enquanto a burrice ainda toma conta da opinião de muita gente, os menos favorecidos seguem lutando para ver raiar o dia em que encontrem a igualdade por meio da diferença. Dia que talvez só chegue, quando estiverem debaixo da terra, pois certamente micróbios não distinguirão a carne podre por cor, classe social ou orientação sexual.
Jade Melo de D. Santos
Colégio DOM, 2010.
Mais sobre o tema
O preconceito de classe é apenas mais um dos diversos preconceitos existentes
Em sua obra intitulada O Povo Brasileiro, o antropólogo Darcy Ribeiro afirma que “apesar da associação da pobreza com a negritude, as diferenças profundas que separam e opõem os brasileiros em extratos flagrantemente contrastantes são de natureza social”. (RIBEIRO, 2006, p. 215). Isso sugere que, para além do preconceito racial tão discutido no Brasil, há outro que está pautado na posição social dos indivíduos, conforme seu acesso à renda, poder aquisitivo, padrão de vida e nível de escolaridade. Em outras palavras, no Brasil também existe o chamado preconceito de classe social.
Ao falarmos em classe social na sociologia, automaticamente somos impelidos a pensar na obra de Karl Marx, o qual, ao fazer uma crítica ao capitalismo, afirma que a sociedade capitalista seria divida em classes sociais, uma proletária e outra burguesa. Em linhas gerais, a primeira seria responsável pela força de trabalho enquanto a segunda seria dona dos meios de produção. Isso seria característico da sociedade capitalista, sendo um fator determinante da diferença social, principalmente no que tange à possibilidade do acesso aos resultados da produção capitalista (os bens de maneira geral), fato que contribuiria para aumentar a desigualdade social.
Contudo, quando falamos em classe social para pensarmos esse determinado tipo de preconceito, não devemos considerar apenas esse sentido visto em Marx, o qual pressupõe a existência de uma constante luta de classes com interesses antagônicos na sociedade capitalista (o que não deixa de ser importante). Deve-se falar em classe social em sentido mais amplo, considerando os diversos grupos sociais numa classificação socioeconômica, sua posição ou status na estrutura social, fato que sugere a existência não apenas de duas classes, mas de tantas outras a depender de aspectos como níveis de renda, de escolaridade, de acesso à assistência médica, entre outros fatores.
Em outras palavras, devemos pensar a ideia de preconceito de classe social para além da chave burguês/proletário, considerando a existência de classes mais abastadas economicamente (milionários, ricos, classe média alta) e outras com menos recursos (classe média, média baixa, pobres, miseráveis), sendo a renda o fator determinante de sua posição social e, dessa forma, do preconceito de classe.
Essa breve observação é importante uma vez que podemos encontrar trabalhadores urbanos que, embora sejam todos proletários, por possuírem faixas de renda diferentes, podem manifestar preconceito de classe em relação aos que possuem um status inferior em relação ao poder aquisitivo, seja por ocuparem funções inferiores, seja por terem menor grau de instrução. Naturalmente, a possibilidade do preconceito dos mais ricos (donos de meios de produção, empresários, banqueiros) em relação aos mais pobres estaria mais próxima desse antagonismo de classes tão discutido por Marx.
Para se ter uma ideia, em 2011, na cidade de São Paulo, houve uma polêmica quanto à construção de uma estação de metrô em uma região nobre, mais precisamente no bairro de Higienópolis. Moradores dessa localidade manifestaram-se contra as obras pelo simples fato de temerem a presença de pessoas “estranhas” pelas redondezas, alegando que a estação de metrô colocaria em risco a segurança e a tranquilidade locais. A polêmica gerada ganhou o noticiário, pois, apesar da coerência do argumento em relação aos possíveis reflexos na região como o aumento do número de transeuntes, tratava-se de um ponto de vista preconceituoso em relação à grande massa trabalhadora usuária desse tipo de transporte público. Mais do que isso, esse discurso (talvez não de uma maioria, mas de um grupo de moradores) deixaria implícita a tentativa de uma “demarcação territorial” por uma determinada classe desejosa em se manter isolada, longe do que lhe parece inferior.
Como qualquer outro tipo de preconceito, este, motivado pela situação econômica, também se manifesta como um tipo de violência, da mesma forma que aquele dado pela cor da pele, tão comum à sociedade brasileira. Aliás, para Darcy Ribeiro, “não é como negros que eles operam no quadro social, mas como integrantes das camadas pobres, mobilizáveis todas por iguais aspirações de progresso econômico e social [...]. Acresce, ainda, que [...] mais do que preconceitos de raça ou de cor, têm os brasileiros arraigado preconceito de classe”. (ibidem, p. 216).
Dessa forma, o que se pode compreender é que para além dos problemas sociais e econômicos dados pela desigualdade social gerada pela divisão do trabalho na sociedade capitalista, a discriminação social vem ampliar as dificuldades encontradas pelos mais pobres.
Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
RECORTES
Texto A
REDUÇÃO DO PRECONCEITO:
A convivência, através de uma atitude comunitária é, talvez a forma mais adequada de se reduzir o preconceito.
COMO FUNCIONA O ESTEREÓTIPO:
É um conjunto de características presumidamente partilhadas por todos os membros de uma categoria social. É um esquema simplista, mas mantido de maneira muito intensa e que não se baseia necessariamente em muita experiência direta. Pode envolver praticamente qualquer aspecto distintivo de uma pessoa – idade, raça, sexo, profissão, local de residência ou grupo ao qual é associada. Quando nossa primeira impressão sobre uma pessoa é orientada por um estereótipo, tendemos a deduzir coisas sobre a pessoa de maneira seletiva ou imprecisa, perpetuando, assim, nosso estereótipo inicial.
RACISMO:
É a crença na inferioridade nata dos membros de determinados grupos étnicos e raciais. Os racistas acreditam que a inteligência, a engenhosidade, a moralidade e outros traços valorizados são determinados biologicamente e, portanto, não podem ser mudados. O racismo leva ao pensamento “ou/ou”: ou você é um de nós ou é um deles.
ARTIGO 5° - CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
OPINIÕES
a) Aqui a faca é de dois gumes, tanto pobre quanto rico é alvo de preconceito por conta de classe social. Ambos são taxados de várias coisas simplesmente por tomarmos a parte pelo todo.
b) A população tem medo dos pobres, afinal, eles podem ser ladrões, traficantes, marginais etc. ou podem ser só pedintes no sinal, flanelinhas, pessoas tentando sobreviver a cada dia sem ter o que comer. E quem é você para julgar qual deles se encontra vindo na sua direção? Ou melhor, quem é você para correr o risco de não julgar. Afinal, aquele pode ser o ladrão ou o honesto morto de fome. Você não deveria ser preconceituoso com as pessoas que passam, mas você tem que ser. Na rua não tem dessa de ficar dando mole, na rua impera a lei do mais esperto.
TEMAS RELACIONADOS
APARTHEID
Foi um regime de sefregação racial adotado de 1948 a 1994 (46 anos) pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África do Sul, no qual os direitos da grande maioria dos habitantes foram cerceados pelo governo formado pela minoria branca.
A segregação racial na África do Sul teve início ainda no período colonial, mas o apartheid foi introduzido como política oficial após as eleições gerais de 1948. A nova legislação dividia os habitantes em grupos raciais ("negros", "brancos", "de cor", e "indianos"), segregando as áreas residenciais, muitas vezes através de remoções forçadas.
A partir de 1958, os negros foram privados de sua cidadania, tornando-se legalmente cidadãos de uma das dez pátrias tribais autônomas chamadas de bantusões, quatro das quais se tornariam estados independentes de fato. A essa altura, o governo já havia segregado a saúde, a educação e outros serviços públicos, fornecendo aos negros serviços inferiores aos dos brancos.
Um estudo do IBGE aponta que o Brasil foi o país americano que mais trouxe negros africanos ao seu território entre os séculos XVI e XIX. Foram cerca de 4 milhões de homens, mulheres e crianças que chegaram aqui vivos, mesmo com todas as condições precárias nos porões das naus. O levantamento mostra também que de cada dez negros, pardos e mulatos vistos nas ruas do País, sete têm algum tipo de descendência com escravos originários da região que hoje é conhecida como Angola.
GRANDES NOMES
Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Nelson Mandela, Rosa Parks